Líder de culto que atacou metrô de Tóquio em 95 é executado; saiba o que é a seita ‘do fim do mundo

Shoko Asahara e outros 6 integrantes de seita usaram agente tóxico sarin em ataque que matou 13 pessoas, feriu outras 5 mil e chocou o país

Shoko Asahara, fundador da seita, declarou ser, ao mesmo tempo, Jesus Cristo e o primeiro 'iluminado' a chegar à Terra desde Buda

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Shoko Asahara, o líder da “seita do fim do mundo” Aum Shinrikyo, responsável pelo ataque com sarin que matou 13 pessoas e feriu outras 5 mil no metrô de Tóquio em 1995, foi executado.

Outros seis membros do culto também foram executados, todos por enforcamento, em um centro de detenção em Tóquio na manhã desta sexta-feira.

O governo japonês não avisa previamente a data marcada para execuções de condenados à pena de morte, mas elas foram confirmadas pelo Ministério da Justiça.

Asahar e seus seguidores também tinham sido responsabilizados por vários outros assassinatos e um outros ataque com sarin em 1994 – que matou oito pessoas e feriu outras 600.

A execução havia sido adiada até que todos os condenados tivessem esgotados os apelos contra a sentença na Justiça. Isso ocorreu em janeiro.

Outros seis membros da seita ainda aguardam execução.

Afinal, o que é a ‘seita do fim do mundo’?

O grupo acredita, entre outras coisas, que o mundo acabará em uma Terceira Guerra Mundial e que somente seus integrantes sobreviverão.

Criado nos anos 1980, no início, misturava crenças hinduístas e budistas, mas depois incluiu profecias cristãs em sua doutrina. Seu fundador, Shoko Asahara, declarou ser, ao mesmo tempo, Jesus Cristo e o primeiro “iluminado” a chegar à Terra desde Buda.

Mesmo no corredor da morte, Shoko Asahara ainda tinha centenas de seguidores

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Em 1989, a Aum ganhou status de organização religiosa no Japão. Assim, atraiu dezenas de milhares de seguidores pelo mundo – Asahara escreveu livros e chegou a dar palestras em universidades. Muitos dos entusiastas da seita eram, inclusive, estudantes de renomadas instituições japonesas.

Tudo mudou, é claro, com a radicalização do grupo, que passou a sequestrar, ferir e matar oponentes e a realizar ataques terroristas.

Nos meses que se seguiram ao ataque no metrô de Tóquio, o grupo fez várias tentativas frustradas de liberar cianeto de hidrogênio, outro gás letal, em várias estações do país.

A Aum Shinrikyo é considerada uma organização terrorista pelos Estados Unidos e outros países, mas mudou seu nome para Aleph e Hikari no Wa no Japão. Ambas, apesar de estarem sob intenso escrutínio das autoridades, são consideradas religiões legais.

Estimativas apontam que esses grupos tenham, ao todo, 1,5 mil seguidores no país, número que vem crescendo lentamente, segundo relatos.

Em outros países, em particular ex-repúblicas soviéticas, também há seguidores. Em 2016, a polícia na Rússia realizou uma série de batidas a casas de membros do culto em Moscou e São Petersburgo.
Em 1995, ela foi responsável por um ataque que matou 13 pessoas e feriu outras 5 mil no metrô de Tóquio. Nele, usou gás sarin, letal para o sistema nervoso e declarado arma de destruição em massa pelas Nações Unidas.

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Como foi o ataque em Tóquio?

No dia 20 de março de 1995, membros do culto deixaram sacolas furadas repletas com o agente nervoso sarin em formato líquido em vagões de várias linhas que cruzam o distrito em que ficam sedes do governo na capital japonesa.

Testemunhas relataram ter notado as sacolas vazando e, logo em seguida, serem afetados, nos olhos, por vapores.

O agente tóxico deixou vários passageiros no chão, vomitando, em convulsões, alguns cegos e paralisados. Treze pessoas morreram.

Nos meses seguintes, integrantes do culto tentaram – mas fracassaram – realizar outros ataques soltando cianeto de hidrogênio em várias estações de trem.

Porque a sentença só foi cumprida 23 anos depois do crime depois?

No Japão, sentenças de morte só são levadas a cabo depois que todos os apelos na Justiça foram esgotados e o veredito é final.

Os julgamentos contra os membros do culto só foram concluídos em janeiro, quando a Suprema Corte manteve a condenação à prisão perpétua de um dos membros.

Pesquisas de opinião revelaram amplo apoio da população às execuções neste caso.

Após o fim de uma moratória em 2010, o país executou em média oito pessoas por ano.

A pena de morte só é aplicada em casos graves de assassinato e a execução é por enforcamento.

Os condenados só são avisados que irão morrer poucas horas antes da execução.