Ciro foi o perfil que mais cresceu após o esfaqueamento de Bolsonaro

O ataque a Jair Bolsonaro na última quinta-feira (06 de setembro) representou intensa mudança nos engajamentos e posições dos perfis que discutiam sobre os presidenciáveis no Twitter antes do esfaqueamento. Com isso, diversas contas que discutiam na semana anterior sobre a corrida presidencial deixaram o debate, assim como outras que não participavam, até então, passaram a interagir sobre o tema nas redes por conta do que ocorreu com Bolsonaro.

Para identificar esse movimento, a FGV DAPP fez a análise dos quatro principais grupos de debate sobre os presidenciáveis no Twitter em dois períodos diferentes: a semana imediatamente anterior ao ataque (28 de agosto a 04 de setembro) e as 48 horas entre as 09h de sábado (08) e as 09h de segunda (10).

No total, 410 mil perfis deixaram o debate político de um período ao outro (de 821,6 mil contas presentes nos quatro maiores núcleos do grafo antes do ataque); e houve a entrada de 188 mil novas contas após o ataque, que se juntaram às discussões dos principais polos de alinhamento na rede.

Tal “troca de guarda” foi verificada principalmente no grupo majoritário (em rosa), formado por opositores a Bolsonaro e que respondeu por mais da metade dos perfis do debate entre sábado e segunda: de 410 mil contas (excluídos os robôs) que, antes de quinta, participaram da discussão sobre os candidatos neste grupo, 278 mil (68%) não repercutiram, a partir de sábado, o episódio com o candidato do PSL. Com a mudança na pauta, deixaram a discussão.

Da mesma forma, outros 128 mil perfis dentre os que antes do ocorrido com Bolsonaro não discutiram o cenário político nacional, passaram a integrar a discussão do polo contrário ao deputado federal. Representam metade dos 250 mil perfis identificados entre sábado e segunda no grupo rosa, que repercute menos os detalhes específicos do esfaqueamento e já adota discussão de contorno mais temático, com críticas à escalada de violência política no país, mas que mantêm a posição contrária a Bolsonaro adotada anteriormente.

Campo da esquerda

As contas mais à esquerda no espectro político (em vermelho) se dividiram em dois grupos depois do ataque, um alinhado a Ciro Gomes (em roxo) e outro ao PT e a Lula e Fernando Haddad (segue em vermelho). Neste, 51,2 mil perfis que antes estavam no núcleo petista (de 90,4 mil, o equivalente a 57% do total) não integraram a discussão entre sábado e segunda, pós-esfaqueamento. O grupo que emergiu nesse segundo período de análise, pró-Ciro, herdou 7 mil perfis do polo vermelho (petista) e foi o que mais recebeu contas do grupo em rosa: 13,1 mil, que respondem a 36% dos 36,2 mil perfis de Twitter que passaram a orbitar a partir da base de apoio ao pedetista. O grupo de Ciro também recebeu 14,2 mil novos perfis que, antes do ataque, não integravam a discussão eleitoral, menos que os 16,5 mil incorporados pelo grupo alinhado ao PT.

Campo da direita

Do outro lado, à direita, verificou-se igualmente mudança na organização do debate, após o ferimento de Bolsonaro. No grafo anterior ao incidente, o grupo que respondia pela cor laranja reunia João Amoêdo, Marina Silva, Geraldo Alckmin, Alvaro Dias e Henrique Meirelles. Bolsonaro isolava-se no grupo azul, do qual houve a saída de 45,8 mil perfis depois do ataque — mais da metade dos 88,3 mil perfis que integravam o debate político na base alinhada ao deputado federal.

Ainda no grupo azul (agora com 74,1 mil perfis, ou seja, com saldo negativo de 14,2 mil contas, calculados perdas e ganhos de outros grupos), 39,3 mil perfis mantiveram-se na discussão de uma semana para a outra no grupo, que recebeu 28,9 mil novas contas posteriormente ao ocorrido em Juiz de Fora. Com menos força e fragmentado, o grupo laranja de Marina, Alvaro, Alckmin, Amoêdo e Meirelles perdeu espaço na discussão política entre sábado e esta segunda-feira. Sem Marina, passou a responder por apenas 3,1% dos perfis.