Download ilegal de programas e séries preocupa empresas de divulgação de conteúdo pela internet

20150301093326215252uServiços de transmissão de séries pela internet já sofrem com a pirataria profissionalizada comum no ataque a canais de televisão da TV por assinatura

A pirataria persiste como “calo” da tevê tradicional e dos serviços de streaming (transmissão de vídeos pela web). Até mesmo o Netflix, empresa com mais de 50 milhões de assinantes no mundo, já sente o impacto da veiculação ilegal. Em carta recente enviada a INVESTIDORES, a empresa tocou no problema e exemplificou com o cenário holandês: “A pirataria continua sendo um dos nossos maiores concorrentes. A acentuada elevação relativa do Popcorn Time sobre a Netflix e a HBO, na Holanda, por exemplo, é preocupante”. O Brasil lidera o ranking de países que mais consomem séries de forma ilegal, segundo pesquisa da empresa norte-americana Tru Optik, divulgada no ano passado.

O aumento do consumo de seriados no planeta consumiu mais INVESTIMENTO na indústria do audiovisual e o surgimento de novas fontes para visualizar conteúdo gratuito. Paralelamente ao mercado oficial de tevê, grupos de fãs disponibilizam seriados até mesmo horas depois da transmissão no país de origem, com uma indústria de legendas alimentada a reboque. Hoje, o Popcorn Time é um dos mais populares ao funcionar como um “Netflix pirata”. Lançado no início de 2014, opera como serviço de compartilhamentos e conta com catálogo de filmes e seriados – a maioria dos indicados ao Oscar já está disponíveis no site.

“A principal desvantagem é utilizar um serviço que não te dá garantia de que estará funcionando no dia seguinte”, afirma o pesquisador de séries na Universidade Federal da Paraíba Marcel Vieira. O Popcorn Time foi retirado do ar no ano passado, mas voltou com mais velocidade e qualidade HD e Full HD. “A Netflix tem concorrido com a pirataria avançando nas negociações de licenciamento e diminuindo as janelas de distribuição de conteúdo”, ressalta a pesquisadora Maíra Bianchini, que estuda o modelo de produção, distribuição e exibição do conteúdo televisivo do serviço.

Um dos casos recentes foi a negociação de Better call Saul, série derivada de Breaking bad (AMC), cujos episódios entram no catálogo um dia após a transmissão nos Estados Unidos. Diferentemente do formato de binge-watching (com todos os episódios de temporada disponibilizados de uma vez), o serviço recorreu ao formato tradicional – um capítulo por semana – para transmitir com mesma rapidez.

É uma forma de responder às constantes queixas de assinantes sobre a demora da inclusão de lançamentos do cinema e novas temporadas de séries, consequência de acordos de distribuição das produções norte-americanas. “Outra desvantagem é o fato de a distribuição digital ser renegociada. Certas obras entram e saem de tempos em tempos”, ressalta Maíra Bianchini. O seriado Friends é um dos exemplos. Atualmente, as cinco temporadas finais estão disponíveis, enquanto as primeiras foram retiradas.

O Netflix investe na produção de séries originais como estratégia, mas nem elas escapam dos downloads ilegais. “O diferencial será a produção de conteúdos originais, já que há a tendência de que as janelas de distribuição se tornem menores”, analisa Marcel, ao comparar com o Popcorn Time. Em 2015 serão mais de 60 produções originais, entre novos filmes, documentários, séries e temporadas. Diz o relatório da Tru Optik: Orange is the new black (Netflix) foi a terceira série mais baixada no primeiro semestre de 2014, com 60,8 milhões entre os 17 bilhões de downloads não pagos contabilizados.

As emissoras de tevê se mobilizam para diminuir a ameaça pirata, ao lançar os próprios serviços de streaming. A HBO promove exibições simultâneas, como é o caso de Game of thrones, Girls e Looking. Nos últimos anos, outras empresas seguem o Netflix. Em constante crescimento, Hulu e Amazon Prime ainda não operam no Brasil, mas também produzem seriados próprios. Transparent (Amazon) venceu a categoria de melhor série de comédia do Globo de Ouro, concorrendo com Orange is the new black (Netflix). “Transparent foi o caso de pessoas que recorreram à pirataria para assistir. É outro problema: restringir o acesso às localidades”, destaca Marcel. Enquanto a televisão e serviços de streaming se adaptam aos novos modelos de negócios, a concorrência acirrada sinaliza mais produções de qualidade.

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