Invulnerável, Temer exagera na falta de recato

O governo de Michel Temer tornou-se o túmulo do recato. O pudor perdeu o sentido. Num instante em que o Tribunal Superior Eleitoral levanta os podres da campanha de 2014 e a Procuradoria-Geral da República se prepara para formalizar uma avalanche de inquéritos decorrentes das delações da Odebrecht, o presidente promove no Congresso uma despudorada dança de cadeiras.

Temer confirmou no final de semana que Romero Jucá (PMDB) —oito inquéritos no Supremo Tribunal Federal, três deles na Lava Jato— responderá pela liderança do governo no Senado no lugar do tucano Aloysio Nunes (PSDB), deslocado para o Itamaraty. O deputado André Moura (PSC) —cinco inquéritos e três ações penais no Supremo— será líder do governo no Congresso, posto que era exercido por Jucá.

Dias atrás, Temer havia desalojado Moura da liderança do governo na Câmara, acomodando em seu lugar Aguinaldo Ribeiro (PP), outro investigado no Supremo sob acusação de receber mensada no petrolão.

Há no Senado 81 senadores. Na Câmara, 513 deputados. Mas o presidente tem fixação por aliados enrolados. Responder a processo no Supremo virou uma pré-condição para ser aproveitado no governo Temer.

O que mais espanta na movimentação de Temer é a sensação de que o presidente se considera invulnerável. Temer segura ministros suspeitos, cerca-se de aliados processados, dá de ombros para a Lava Jato e trama a protelação do julgamento do seu mandato no Tribunal Superior Eleitoral.

Com novo sentido, o pudor faz coisas impensáveis em Brasília. E já nem fica vermelhinho.

Fonte: Magno Martins