SEBASTIAO NERY – UM DICIONÁRIO PARA DILMA

 

 

NERY

RIO – “A família está toda reunida na sala de jantar.

         O senhor Rodrigues palita os dentes, repimpado numa cadeira de balanço. Acabou de comer como um abade. Dona Bernardina, sua esposa, está muito entretida a limpar a gaiola de um canário amarelo.      

         Os pequenos são dois, um menino e uma menina. Ela distrai-se a olhar para o canário. Ele, encostado à mesa, os pés cruzados, lê com muita atenção uma das nossas folhas diárias.

         De repente, o menino levanta a cabeça e pergunta:

         – Papai, que é plebiscito?

         O senhor Rodrigues fecha os olhos para fingir que dorme.

         O pequeno insiste:

         – Papai?

         Dona Bernardina intervém:

         – Ó seu Rodrigues. Não durma depois do jantar, que lhe faz mal.

         O senhor Rodrigues não tem remédio senão abrir os olhos.

         – Eu queria que papai me dissesse o que é plebiscito.

         – Então tu vais fazer doze anos e não sabes ainda o que é plebiscito?

 Ó senhora, o pequeno não sabe o que é plebiscito!

         – Não admira que ele não saiba, porque eu também não sei.

         – Que me diz? Pois a senhora não sabe o que é plebiscito?

         – Nem eu, nem você; aqui em casa ninguém sabe o que é plebiscito.

         – Alto lá! Creio que tenho dado provas de não ser nenhum ignorante!

         – Mas, homem de Deus, para que você não há de confessar que não sabe? Não é nenhuma vergonha ignorar qualquer palavra.

         O senhor Rodrigues ergue-se de um ímpeto e brada:

         – Mas se eu sei!

         – Pois se sabe, diga!

         – Não digo para me não humilhar diante de meus filhos! Não dou o braço a torcer! Quero conservar a força moral que devo ter nesta casa!       O senhor Rodrigues, exasperadíssimo, nervoso, deixa a sala de jantar e vai para o seu quarto, batendo violentamente a porta.

         No quarto havia o que ele mais precisava naquela ocasião: algumas gotas de água de flor de laranja e um dicionário….

         Dona Bernardina dá um beijo na filha e vai bater à porta do quarto:

         – Seu Rodrigues, não vale a pena zangar-se por tão pouco.

         O negociante esperava a deixa. A porta abre-se imediatamente.

Ele entra, atravessa a casa, e vai sentar-se na cadeira de balanço.

         – É boa! – brada o senhor Rodrigues depois de largo silêncio – é muito boa! Eu! Eu ignorar a significação da palavra plebiscito! Eu! …

         O homem continua num tom profundamente dogmático:

         – Plebiscito …

         E olha a ver se há ali mais alguém que possa aproveitar a lição.

         – Plebiscito é uma lei decretada pelo povo romano, em comícios.

 Uma lei romana, percebem? E querem introduzi-la no Brasil! É mais um estrangeirismo”!

PLEBISCITO

         Esse conto clássico, de 1890 (aqui condensado por falta de espaço), é do múltiplo escritor maranhense Arthur de Azevedo (1855-1908), jornalista, poeta, teatrólogo. Um José Sarney melhorado.

          O ministro Mercadante e o marqueteiro João Santana, também  Patinhas, os dois únicos palacianos que a presidente Dilma ouve, deviam ter dado esse conto para ela ler. Para não continuar dizendo bobagens na TV sobre Constituinte e Plebiscito, mudando de posição a cada dia,  deviam ter dado o “Dicionário Parlamentar e Político – O Processo Político e Legislativo no Brasil”, do ex-ministro  Said Farhat (Ed Melhoramentos). :

FARHAT

         -“Constitucionalistas e Cientistas Políticos divergem sobre a definição, o alcance e a natureza do plebiscito e do referendo. A ideia de plebiscito, diz Gláudio Gemma, remonta à convocação da plebe romana pelo tirano do dia. Ou então, conforme Carlo Baldi, a praxe dos plebiscitos ascende em sua essência à revolução francesa”..

         “A doutrina sedimentada concorda no seguinte: o plebiscito antecede a lei – o eleitorado diz se aceita ou recusa determinada proposta. O referendo é posterior à lei – os eleitores a homologam ou não”.

         É perda de tempo. PT não lê. Governo do PT também. Lula proibiu.  

                                sebastiaonery@ig.com.br

 

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