Atrizes pornô se unem para denunciar ator e diretor por abusos sexuais

Por Beatriz Drague Ramos

Atenção: a reportagem contém descrição e relatos de violência sexual

Já era madrugada quando Ellen Jeniffer de Souza foi dormir após mais um dia de trabalho. A jovem de 24 anos é atriz em filmes pornôs e em quatro anos trabalhando na área passou a confiar nas equipes das produções. Essa segurança, no entanto, foi por água abaixo em 23 de março deste ano. Ellen afirma que foi estuprada pelo ator Wagner Roberto de Carvalho, 46 anos, o Vagninho. Os dois foram contratados pela produtora Fetichistas.

A atriz registrou boletim de ocorrência contra o ator na 6ª Delegacia de Defesa da Mulher, em Santo Amaro, bairro da zona sul de São Paulo. No documento, Ellen relatou que foi à Brasília pela produtora no dia 21 de março, onde ficaria por dois dias e depois retornaria para São Paulo. O boletim aponta a ocorrência de estupro consumado.

No primeiro dia de gravações, ocorridas na casa do dono da produtora, tudo correu bem, exceto pelo colega, que a assediava durante as gravações e fora delas, perguntando se a atriz queria ter relações sexuais com ele fora do trabalho, além de tocar em seu corpo sem autorização. Segundo Ellen, o assédio foi percebido por diversos profissionais que estavam trabalhando no set desde as primeiras cenas, até o dia seguinte, 22 de março, uma segunda-feira.

Mesmo assim, Ellen teve que dormir com Wagner, porque só havia uma cama disponível para os dois. Na manhã do dia 23 de março o ator a penetrou enquanto dormia. “Na mesma hora pulei da cama chorando e gritando. Vale a pena frisar que eu não fui a primeira atriz com quem ele fez isso”, disse a atriz em entrevista à Ponte.

A atriz diz que a produtora não parece ter se preocupado com a violência. “No mesmo dia eu voltei imediatamente pra SP e, apesar do apoio de muitas pessoas, ouvi algumas me culpando pelo que aconteceu, quis morrer. Dias depois, o produtor me ligou e o único interesse dele era eu assinar os papéis da divulgação de imagem do filme. Ele disse que não tem nada a ver com isso e que ele pode usar sim o vídeo, mesmo eu não tendo assinado nada e que a responsabilidade do que aconteceu não é dele. Ele não está nem aí, não se importa.”

Na delegacia, a atriz diz que não se sentiu “nem um pouco acolhida”, e nem no Hospital Pérola Byington, onde foi fazer o exame de corpo de delito. “O único apoio que tive foi dos meus colegas de trabalho e da minha família. Na delegacia me tratavam como se eu fosse a acusada, inclusive a escrivã que estava colhendo meu depoimento questionou o porquê fiquei do lado dele. Por várias vezes me perguntaram se era consentido ou não. No hospital tomei várias injeções e remédios e fiquei sem conseguir me alimentar e nem dormir por dias. Eu fiquei ainda pior quando ouvi que eu mereci aquilo e que eu pedi por isso.”

À Ponte, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) disse que o caso de Ellen foi enviado para Brasília, local do crime. A reportagem perguntou se poderia entrevistar o delegado Wellington de Freitas mas não houve resposta. A SSP também não informou se já houve a formalização de um inquérito policial.

Além do boletim de ocorrência e exame de corpo de delito, Ellen expôs o ator em um grupo de trabalho do WhatsApp de atores, atrizes e produtores do universo pornô brasileiro. No mesmo grupo, Vagninho disse ter testemunhas que provam o contrário e que tudo foi um “mal entendido”.