Uma força-tarefa do Congresso Nacional, formada por senadores e deputados federais, chega ao Recife nesta segunda-feira (21) para conhecer de perto a crise financeira e estrutural enfrentada pelo Metrô do Recife, que sofre com o sucateamento, uma greve geral e um déficit de custeio anual de R$ 300 milhões. E, como se não bastasse, ainda segue sob risco de ser privatizado.

A comitiva foi proposta pelo senador pernambucano e presidente da Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado Federal, Humberto Costa (PT), e será realizada em parceria com a Comissão de Trabalho da Câmara dos Deputados, representada pelo deputado pernambucano Túlio Gadêlha (Rede). As informações são do Jornal do Commercio.

A diligência vai visitar as instalações da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) no Recife, especialmente o Centro de Manutenção de Cavaleiro (CMC), onde existe um verdadeiro ‘cemitério de trens’ velhos – composições fora de operação por falta de manutenção e que passaram a ter peças retiradas para uso nos trens que ainda operam.

Audiência para discutir problemas

Em seguida, será realizada uma audiência pública na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), na Boa Vista, Centro do Recife, onde serão discutidos – em mesas distintas – os problemas relacionados à infraestrutura e à gestão; e aos trabalhadores e usuários.

Técnicos do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDES), que está à frente dos estudos de privatização e, agora, de requalificação do Metrô do Recife – incluído no Novo PAC do governo federal – também vão participar.

“Estamos reunindo forças para buscar soluções. O Metrô do Recife é um dos principais serviços de transporte público da Região Metropolitana, mas sofreu um absurdo processo de sucateamento. O sistema foi abandonado e não atende às necessidades da população, além de colocar em risco a segurança dos trabalhadores”, afirmou o senador Humberto Costa.

Também estarão presentes na comitiva a senadora Teresa Leitão (PT), o superintendente da CBTU Recife, Dorival Martins, a chefe do Departamento de Estruturação de Projetos do BNDES, Anie Amicce, o presidente do Sindicato dos Metroviários de Pernambuco, Luiz Soares, e o diretor-presidente do Grande Recife Consórcio de Transportes Metropolitano (CTM), Matheus Freitas, este representando o governo do Estado.

Sucateamento e infraestrutura serão mostrados

A proposta da visita é que os problemas do Metrô do Recife sejam mostrados aos senadores e deputados federais, numa tentativa de sensibilizá-los a ajudar no combate ao sucateamento do sistema. O Metrô do Recife transporta aproximadamente 200 mil passageiros por dia e atende diretamente a quatro municípios do Grande Recife.

Inicialmente, haveria um encontro com a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), mas a agenda não foi confirmada. O argumento foi de que a agenda da visita ficou muito ampla e já haveria um representante do governo do Estado.

Metrô do Recife precisa de mais de R$ 1 bilhão para resolver sucateamento

O governo federal precisaria investir, de imediato, mais de R$ 1 bilhão para fazer com que o Metrô do Recife voltasse a operar com as mínimas condições. Na verdade, seriam entre R$ 1,2 bilhão e R$ 1,5 bilhão. O valor foi apresentado pela Superintendência da CBTU no Recife, durante audiência pública no Senado Federal, em junho deste ano.

Os recursos seriam necessários apenas para reerguer a operação do Metrô do Recife, mantendo as condições operacionais mínimas. Seria para recuperar o material rodante, que são os trens e veículos de manutenção, realizar obras e serviços na via férrea e na rede elétrica, além de edificações no sistema. E seriam valores para serem aplicados no prazo de quatro a seis anos”, afirmou, na época, o gerente operacional de recursos humanos da CBTU/Recife, José Inocêncio Andrade.

Já o projeto de concessão do metrô, elaborado na gestão Bolsonaro, apontava investimentos de até R$ 3,8 bilhões – a maioria privados – para ser concedido.

Metrô do Recife incluído no novo PAC

O sistema metroferroviário do Grande Recife vai receber R$ 4 milhões do Novo PAC, dentro do subeixo de mobilidade urbana sustentável. Os recursos, entretanto, serão utilizados para a realização de estudos de requalificação.

Embora esteja no pacote de investimentos do novo programa, o fato de a rubrica ser de estudos e não de investimentos diretos, leva à leitura de que o metrô segue com o seu futuro incerto.

Além disso, os recursos do programa federal também seriam poucos diante da dimensão dos problemas do metrô – que precisaria de R$ 2 bilhões a R$ 4 bilhões para se reerguer. Vale lembrar que, apesar da inclusão no Novo PAC, a CBTU, gestora do Metrô do Recife, segue no Plano Nacional de Desestatização (PND) do governo federal.

E vai continuar assim, pelo menos até que os estudos sejam finalizados. Até lá, segue no PPI (Programa de Parcerias de Investimentos).

A permanência afeta diretamente os processos de duas empresas estatais: a CBTU, que opera o Metrô do Recife e outros três sistemas no Nordeste (João Pessoa-PB, Natal-RN e Maceió-AL, tendo perdido no fim de 2022 o Metrô de Belo Horizonte-MG para a concessão privada), e a Trensurb, que atende a Região Metropolitana de Porto Alegre (RS).