RIO – Em 30 de dezembro de 1974, quando o general Spinola renunciou à presidência de Portugal, cinco meses depois da Revolução dos Cravos de 25 de Abril de 1974 que derrubou o salazarisno, assumiu o governo o general Costa Gomes, chefe do Estado-Maior do Exército e principal líder militar da Revolução.
Carlos Lacerda estava em Lisboa, foi visitar Costa Gomes, seu velho conhecido, no Palácio de Belém:
– Presidente, precisa ter cuidado com a infiltração comunista. Entre seus assessores diretos, conheço dois.
Costa Gomes pegou a caneta, começou a escrever números:
– Veja, doutor Lacerda. A União Soviética tem 250 milhões de comunistas. É a segunda potência do mundo. A China tem um bilhão de comunistas. É uma das cinco potências do mundo. Portugal tem esses dois, que o senhor conhece, e mais alguns, que eu conheço. Como o senhor vê, é uma porcentagem muito baixa de comunistas.
Lacerda, amigo de Spinola, afastado dias antes, não gostou. Foi embora. Essa historia foi relembrada à presidente Dilma Roussef, dias atrás, em Lisboa. Seria bom que a presidente recolhesse a lição.
A FAISCA
O general Costa Gomes, sereno, simpático, conversa espichada e muito esperto, que meus colegas portugueses chamavam de “General Cortiça” porque nunca afundava, sabia como o fogo crepita, mesmo quando ainda começando. As fagulhas sociais costumam tornar-se fogueiras que podem chegar a incontroláveis incêndios.
O general viu a brutal guerra colonial de Salazar na África implodir de repente, quando a juventude portuguesa não quis mais ser bucha de canhão. Havia alguma força política organizada por trás do bravo Novimento dos Capitães. Sempre há. Havia o Partido Comunista de Álvaro Cunhal exilado em Moscou e o Socialista de Mario Soares em Paris.
Durante meio século Salazar conseguiu sustentar sua retrograda (teclados invertidos) e criminosa ditadura. Até que a estúpida guerra contra os africanos rebelados implodiu tudo. Foi a faísca no paiol.
ANARQUISTAS
Não se compara água com azeite. Atrás do oportuno e anônimo Movimento do Passe Livre, criado por estudantes de vários Estados, também há meia dúzia de partidos nanicos inexpressivos. Mas nas ruas quem aos poucos assume o comando das ações que estão ocupando praças e avenidas pelo pais a fora é um punhado de grupos anarquistas, vândalos.
Rostos cobertos, camisas enroladas nas mãos, tênis sujos, eles avançam sobre os vidros de monumentos seculares, como o Palácio Tiradentes no Rio, igrejas em São Paulo e vão quebrando ou pixando tudo. O governo finge não saber o que eles querem. Mas sabe e se cala
PAULISTA
Não fazem discursos como nas passeatas de antigamente, não discutem posições políticas nem sequer slogans produzem. É uma cerveja na mão, bombas nas mochilas, panos nos rostos e quebrar o que puder.
E vão arrastando cada dia mais gente atrás deles, porque têm um objetivo concreto : ocupar espaços como a Avenida Paulista e fazer deles fortalezas, como a Tahrir no Egito ou a Taksim na Turquia. Atenderam a brilhante e vitoriosa lição do lúcido delegado Mariano Beltrame no Rio :
– Não adianta cercar, subir, prender, trocar tiros, às vezes matar e ir embora. As favelas só deixarão de ser esconderijos de bandidos quando a policia ocupar, instalar-se e implantar serviços públicos. Ai viram bairros.
DILMA
A presidente Dilma ficou surpresa e literalmente possessa com a força e unanimidade da vaia que recebeu em Brasília na abertura da Copa das Federações. A vaia lhe entrou na veia. A maioria do pais sente-se enganada com o bla-blá-blá do PT, promessas de investimentos não cumpridas, obras paradas, serviços públicos (saúde, educação, transportes e saneamento) cada dia piores, inflação e juros sobindo e PIBinho descendo.
E eles achando que miúdos empréstimos da Caixa e do BB, isenções de impostos, tapeiam. Vão acabar, como Wando, distribuindo calcinhas.
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