Miliciano do Rio de Janeiro, Zé do Rolo é preso no interior de PE

O homem suspeito de liderar uma milícia no Rio de Janeiro responsável pela construção e comercialização de imóveis no Alto da Muzema, onde dois prédios desabaram deixando um saldo de 24 mortos e centenas de desabrigados em abril, foi preso no interior de Pernambuco. José Bezerra de Lira, conhecido como Zé do Rolo, é natural de Brejinho, no Alto Pajeú, mas foi para a capital fluminense trabalhar como pedreiro até se envolver com a quadrilha.

O suspeito foi detido dentro da Operação Inquietação, em um sítio na zona rural de Afogados da Ingazeira. Contra ele, havia um mandado de prisão preventiva expedido pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.

De acordo com os militares do 23º Batalhão, responsáveis pela captura, ao chegar no esconderijo do suspeito, no Sítio Jatobá, Zé do Rolo ainda teria tentado escapar pela caatinga, mas foi alcançado e não resistiu à prisão. Com ele, foram encontradas duas espingardas e munições. Ao prestar

depoimento, disse que fugiu do Rio de Janeiro com receio de represálias da milícia que fazia parte. Outros dois homens que estavam com ele também foram detidos e levados para a Delegacia de Polícia Civil de Afogados da Ingazeira.

Ainda segundo a polícia, ele teria visitado a região pela última vez durante a Semana Santa e tem uma chácara no município. Um dia após o desabamento, ele teria ido para a Paraíba e circulou por outras áreas da região ao longo dos últimos meses.

Investigação apontou envolvimento de construtoras com milícia

A Justiça decretou em julho a prisão preventiva de José Bezerra de Lira, Rafael Gomes da Costa e Renato Siqueira Ribeiro pelos crimes de homicídio doloso qualificado, por 24 vezes, lesão corporal, por três vezes, e desabamento, em razão do desabamento de dois prédios residenciais no Condomínio Figueiras do Itanhangá, na Muzema. Os três são responsáveis pela construção dos dois prédios que desabaram após uma forte chuva na cidade.

A denúncia foi apresentada pelo Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente do Ministério Público estadual no dia 15 de julho, e a decisão foi proferida pela juíza Ariadne Villela Lopes, do 1º Tribunal do Júri da Comarca da Capital. A investigação, conduzida pela 16ª Delegacia de Polícia (Barra da Tijuca), ouviu diversas testemunhas, em especial moradores da localidade e sobreviventes da tragédia. Os depoimentos apontam os denunciados José Bezerra de Lira e Rafael Gomes da Costa como os responsáveis pelas construções que desabaram e Renato Siqueira Ribeiro como o principal vendedor das unidades imobiliárias. Rafael e Renato estão presos com a prisão temporária decretada transformada pela Justiça em preventiva. O Ministério Público levantou nas investigações que Renato Siqueira Ribeiro é o proprietário da Imobiliária Muzema, que funciona irregularmente, pois não possui registro junto ao Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci).

Por meio de interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça, foram reunidas provas de que Renato Siqueira Ribeiro participava do processo de construções clandestinas na comunidade da Muzema, além de ser o maior responsável pelas transações imobiliárias ilegais. Os promotores de Justiça ficaram impressionados com o descaso dos denunciados quanto à segurança das construções, sem a observância de qualquer dos requisitos legais exigidos para o exercício da atividade.

Na denúncia, o Ministério Público argumentou que “para obter o maior lucro possível, abusando da confiança de cidadãos que buscavam realizar o sonho da casa própria, os denunciados construíram edifícios de oito andares, para moradia de centenas de pessoas, sem sequer contratar um engenheiro civil que pudesse atestar a convicção das obras”.

O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea), atestou que os prédios que desabaram não tinham anotação de responsabilidade técnica (ART). Na denúncia, o MPRJ escreveu “que os denunciados tinham total ciência da fragilidade dos edifícios que construíram, além de total consciência de que esses edifícios estavam habitados e que a ruína dos mesmos causaria a morte de dezenas de pessoas, como de fato ocorreu”. Os promotores informaram que “ainda assim, nenhuma atitude tomaram a fim de evitar a tragédia, demonstrando, claramente, que almejavam a obtenção de lucros a qualquer custo, sem a menor preocupação com a vida humana”.