Nos bastidores, Temer e Maggi deram duro em chefe da PF

Nos bastidores, a reação do presidente Michel Temer e do ministro Blairo Maggi (Agricultura) à Operação Carne Fraca foi mais dura ainda do que a veio a público anteontem. Em entrevista, Maggi disse que a “narrativa” da Polícia Federal criou “fantasias” e minimizou o risco de consumo de carne brasileira.

O presidente e o ministro cobraram o diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello. O governo avaliou como exagerada a forma como a Polícia Federal agiu na última sexta-feira, criando a maior operação de campo da história da corporação.

Para o presidente, não havia motivos para uma ação dessa envergadura e com tamanha exposição, porque atingiu um dos principais setores exportadores do Brasil e que têm uma cadeia produtiva extensa no país.

Temer considerou que faltou responsabilidade à Polícia Federal, porque a ação foi feita de um modo que, na visão dele, assustou a população brasileira que consome carne, além de poder afetar as exportações e a geração de empregos no país.

É arriscado minimizar o problema, como fez o ministro Maggi, porque podem surgir fatos novos. Será preciso ver os desdobramentos da operação e averiguar a consistência (materialidade) das graves acusações feitas pela Polícia Federal. Maggi rebateu algumas delas ontem. Agora, é aguardar a resposta dos policiais.

Mas não há dúvida de que houve um viés marqueteiro na execução da operação. Numa investigação feita durante anos, a PF escolheu justamente 17 de março para realizar a Operação Carne Fraca. Foi exatamente no dia do aniversário de três anos da Lava Jato. Não se tratou de mera coincidência, mas uma forma de criar conexão com a Lava Jato e dar grandiosidade à nova investigação.

A PF levou a campo número recorde de agentes. Deu entrevistas naquele “tom de espetáculo” que o ministro do STF Teori Zavascki criticou em relação à Lava Jato. Temer e Maggi estão certos nas críticas à forma como a PF executou e divulgou a operação. A PF e o Ministério Público têm errado com esse pendor pelos holofotes e marketing, como muitas vezes já aconteceu na Lava Jato.

Em reação à Carne Fraca, pode crescer no Congresso novamente a ideia de aprovar um novo projeto de abuso de autoridade, o que não seria ruim. Todas as autoridades, inclusive juízes, promotores e policiais, devem prestar contas por eventuais abusos.

A ideia estava adormecida pelo medo da classe política em relação à nova lista de Janot. Seria bom que a proposta voltasse à pauta do Senado, bem como o projeto que impõe limite aos salários que ultrapassam o teto constitucional.

Essa é outra medida que voltou a ficar em banho-maria para não melindrar juízes e procuradores, que, neste caso, defendem o indefensável, que é receber um salário acima do que a Constituição permite.

Fonte: Magno Martins.